MEDO PELO PÓS-PODER: O PROBLEMA DE JOÃO LOURENÇO

Quando João Lourenço tomou posse, a 26 de Setembro de 2017, o PIB de Angola era de 122 mil milhões de dólares. A 15 de Setembro de 2022, quando tomou posse para o actual e último mandato, o PIB nacional era de 115 mil milhões de dólares. No segundo trimestre de 2024, o PIB de Angola é de apenas 23 mil milhões de dólares (Valor Económico, 10.09.204, nº 426).
Fica evidente que a economia angolana atingiu níveis catastróficos. Estava melhor em 2017. Está pior em 2024. João Lourenço, ao contrário do que disse no início do seu primeiro mandato, não conseguiu manter nem aumentar a riqueza produzida no País. Antes, pelo contrário, fez a economia derrapar para níveis próximos de 2001, quando o PIB nacional era de meros 15 mil milhões dólares e Angola estava a braços com a guerra civil.
Entretanto, o problema do PIB decadente não é a principal preocupação de João Lourenço, cujo desempenho como Presidente da República (Chefe de Estado e do Governo) é manifestamente negativo. A maior preocupação de João Lourenço é a perda do poder e o tratamento que lhe será dado como ex-Presidente da República e ex-Presidente do MPLA.
João Lourenço vive uma situação de medo: quando tiver deixado o poder, ser-lhe-á seguramente dispensado um tratamento à altura da incúria e truculência com que geriu o País e o MPLA, a par da humilhação com que tratou José Eduardo dos Santos e sua família, e a perseguição contra diversas figuras fiéis ao antigo Presidente.
A situação é de tal precariedade que João Lourenço não goza de apoio no MPLA. Tanto os membros do Conselho de Honra quanto as outras figuras-chave do núcleo de poder do partido não o apoiam. As duas últimas marchas de apoio demonstraram precisamente o contrário do que ele queria: não goza de popularidade no interior do seu partido e está longe de ser uma figura em torno da qual se deva cerrar fileiras à luz duma centelha típica de um líder carismático.
O medo pelo pós-poder faz João Lourenço levar a cabo toda uma estratégia em sede qual visa manter-se no leme do MPLA e do País a todo o custo.
João Lourenço não se está a ver a deixar o poder em 2027. Não apenas pelo inerente gosto pelo poder, mas, principalmente, por temer ser maltratado e acabar os seus últimos dias isolado e com o espírito amargo, quadro cujo desdobramento implicará situações como as seguintes:

  1. Ser ignorado;
  2. Perder a fortuna;
  3. Ser apontado como o único culpado pelo estado catastrófico do País em quase todos os aspectos;
  4. Serem os seus filhos alvos de processos judiciais e procedimentos de desapossamento material (empobrecimento);
  5. Ser alvo de isolamento institucional.
    O quadro de incúria, truculência e perseguição que carateriza a sua governação resultará em ser maltratado a doses superiores àquelas a que José Eduardo dos Santos foi submetido.
    João Lourenço, que tem agora 70 anos, está ciente do destino que, seguramente, o aguarda. Então, para evitar tal sorte, está a implementar a já mencionada estratégia de manutenção do seu poder unipessoal – manter-se no poder e, se necessário, morrer no poder para não ter de lidar com um pós-poder catastrófico.
    Por Nuno Álvaro Dala

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